Mauricio de Nassau...15 anos depois







Este livro,datado de 1660,foi restaurado há uns 15 anos, aproximado.
Um dos meus xodós!
Chegou ao atelier,na época, com perdas de suporte por infestação de cupins.
15 anos depois, uma infestação por broca,só detectada pelo resíduo visível na estante,segundo a proprietária.
Realmente, só assim seria possível detectar pois depois de uma higienização,folha a folha,não consegui visualizar nenhum inseto, ou qualquer tipo  de ação ,nem mesmo perfuração.
Entretanto o pó continuava a sair e em quantidade relativamente grande.
Após dias de observação,foi possível ver que a entrada do inseto se deu pelo vão entre a lombada do livro e da encadernação ,local escolhido para se alimentarem,provavelmente por ser um lugar escuro, e próximo da cola - à base de amido.
Em se tratando de um livro antigo, já restaurado,pensamos, a proprietária e eu ,numa alternativa que não tivesse que desmontar o livro,já fragilizado na 1° infestação.Como é sabido, todo desmonte e reencadernação compromete a obra,num livro já restaurado esse comprometimento se faz ainda de maior risco..
Depois de muita reflexão, optou-se  por um tratamento por atmosfera anóxia - abaixo o texto sobre o que é atmosfera anóxia.
Posso dizer que o resultado foi gratificante,retornando o livro com suas propriedades físico-químicas preservadas,sem resíduos tóxicos e sem infestação...principalmente!

Nesse relato quero ressaltar 2 aspectos,ao meu ver importantes: a  higienização das obras e do ambiente/estantes/armários como ação preventiva. Nessa etapa podemos não apenas retirar 80% dos problemas que afetam a integridade das obras,tais como sujeira superficial - pó - onde se acumulam esporos de fungos,bactérias,partículas de metais etc ,assim como objetos que ás vezes esquecemos dentro dos livros,como clips,marcadores,flores etc, A observação, durante a limpeza, das obras e estantes ,também pode detectar infestações logo no inicio,evitando que se alastre causando perdas maiores e irreversíveis.
Restauração é isso: devolver à obra sua função sem em nada alterar as suas características,com o minimo de intervenção necessária.

Um trabalho gratificante pelo sucesso do tratamento,e por poder devolver a obra,intacta, à sua  estante onde, espero, permaneça por mais 355 anos !
 Muito bom rever um livro 15 anos depois.Muito bom rever um amigo!!






Pó ,resultado da ação por broca

capa do livro,em couro










Biodeteriorização controlada por método anóxio;
Baseado no trabalho do Dr. Robert J. Koestler, Phd em biologia celular, pesquisador cientista do Centro Sherman Fairchild para Conservação de Objetos, Metropolitan Museum of Art, Nova York, USA.
O problema de infestação por insetos ou micróbios em objetos de arte é secular.
Técnicas de controle incluíram desde tratamentos por ervas, fumaça de fogueiras, e, mais recentemente por meios químicos. Todos promoveram certo nível de eficácia, senão o controle das pestes. Porém, muito freqüentemente o tratamento, enquanto visava salvaguardar a arte, criava danos às mesmas. Com o propósito de eliminar os efeitos colaterais dos controles de infestações, diversos laboratórios no mundo focaram-se, incluindo o nosso, em meios não-químicos para um tratamento não destrutivo.
A história da fumigação para tratamento de controle de pragas no campo da conservação de bens histórico-artístico-cultural é uma sequência de uso de produtos químicos inadequados um após o outro. Todo fumegante é um biocida (biocida é qualquer produto químico que reage com um ou mais processos dos organismos vivos e inibe este(s) processo(s), resultando na morte do mesmo) Infelizmente biocidas tendem a reagir além do seu organismo-alvo. Eles também, muito freqüentemente, reagem com algum componente do bem em tratamento. Por vezes a reação é bastante evidente (ex.: alteração de cor ou brilho da pintura); outras vezes é invisível ao olho desarmado (ex.: absorção do biocida para dentro do material , alteração do Ph, quebra de cadeias moleculares, etc). Ainda, os fumegantes podem ser danosos ou até letais aos seres humanos nas concentrações aplicadas ao controle de pragas, sem mencionarmos os possíveis danos ao meio-ambiente.
Vejamos alguns exemplos:
Brometo de metila, por exemplo, quebra ligações que contenham átomos de enfoxôfre, produz odores nocivos, ataca três vezes mais a camada de ozônio do que fluorcarbonos.
Óxido de etileno, muito eficiente na erradicação de insetos e fungos. Altamente tóxico para humanos, tido como agente carcinogênico, retêm-se em componentes de arte que contenha lipídios, ex.: pergaminho e couro.
Ao mais recentemente utilizado em museus dos Estados Unidos, o fluoreto sulfúrico, foi detectado em testes no laboratório do Metropolitan Museum of Art que; 10 entre 11 sistemas de pigmentos ficaram alterados por este fumegante.(Koestler et al., 1993)
Outras alternativas para combater infestações são aplicadas tais como congelamento, aquecimento, radiações de comprimentos diferentes, etc. Todas causando, em maior ou menor grau, um estresse físico nos materiais. Arte é freqüentemente composta por um variado conjunto de materiais e cada material responde diferentemente à mudanças de energia a qual é submetida.
Por exemplo: se o coeficiente de dilatação é significantemente diferente entre materiais em um mesmo bem, e se este for congelado ou aquecido, os materiais que compõe este bem dilatarão ou contrairão em razões diferentes. Isto pode, e freqüentemente conduz, a fissuras ou rachaduras em certos tipos de materiais.
Testes com radiação Gama em pergaminhos novos e antigos demonstraram que os danos por radiação são acumulativos e mais gravemente sucetíveis em pergaminhos antigos. (ref. Dr. Petushkova)
É sabido que todos os insetos, ou melhor, todos os seres acima do nível dos fungos (chamados seres superiores) necessitam de oxigênio para seus metabolismos. Surge o conceito teórico genialmente simples: Em um ambiente anóxico (livre de oxigênio) todos os seres superiores serão erradicados .
Após anos de pesquisa e aprimoramento o Dr. Koestler comercializou a patente da técnica de erradicação de pestes por atmosfera anóxia à Art Care International, Inc. sediada em Nova York, USA.
O procedimento executivo da técnica é relativamente simples:
- isola-se o bem/objeto da atmosfera rica em oxigênio
- substitui-se o ar rico em oxigênio por um gás inerte(não reage com material algum) anóxico (pobre em oxigênio)
- aguarda-se um prazo pré estabelecido até o aniquilamento total dos insetos e retira-se o bem/objeto do ambiente anóxico.
Paradoxalmente, este processo demanda alta tecnologia de suporte para que sejam atingidos os baixos níveis de oxigênio e sua manutenção para que a total eficiência seja alcançada.
A eficiência da técnica foi exaustivamente analisada em laboratório com o acompanhamento de emanações de metano e CO2 pertinente aos processos digestivos e respiratórios respectivamente dos insetos. Com a espectrometria no infravermelho modificado de Fourrier a precisão da leitura e eventuais oscilações dos gases chega a ser de 20 ppb (partes por bilhão) em apenas 20 minutos.
Atualmente, este método é o meio não-destrutivo mais preciso e seguro de detecção e erradicação de infestações em bens de valor histórico-artístico-cultural.
Compilado por Ulisses Mello.