Edifícios Industriais da rua Borges de Figueiredo, São Paulo/Guia de Bens Culturais da Cidade de São Paulo
A chegada das fábricas em São Paulo, a partir da construção da Estação da Luz, foi fundamental para a transformação da pequena vila em metrópole. Com o tempo, algumas dessas empresas e fábricas deixaram de funcionar, mas seus registros físicos permanecem através dos edifícios e galpões que compõem o patrimônio industrial da cidade.
Em meio a atual economia paulistana, hoje baseada no setor de comércio e serviços, qual é a importância dessas construções?
Para a arquiteta Manoela Rufinoni, especialista em patrimônio industrial, a preservação das oficinas, além de ajudar a “ler” o passado e compreender processos históricos para valorizar nossa cidade como um documento vivo, permite também a nossa identificação como parte dessa história, no papel de agentes ativos na formação da cidade.
Ou seja, a preservação do patrimônio industrial é o reconhecimento da importância que São Paulo adquiriu ao longo de sua industrialização, e uma maneira de proteger a história do desenvolvimento da cidade inteira.
Rufinoni fala ainda dos riscos que tais construções enfrentam: “Sabemos que os remanescentes industriais urbanos paulistanos estão em constante perigo de demolição, já que geralmente são compostos por edificações subutilizadas ou até mesmo abandonadas, localizadas em áreas estratégicas para o setor imobiliário”. Rufinoni se refere aos grandes terrenos, onde é possível incorporar grandes projetos residenciais, em oposição à compra de diversos imóveis em pequenos lotes, cuja negociação tende a ser difícil e demorada.
Em março de 2015, o conjunto de galpões da antiga São Paulo Railway, na Lapa (zona oeste), teve processo de tombamento aberto pelo Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico), estando já protegido contra demolição ou descaracterização. Os galpões são os remanescentes industriais com processo de tombamento aberto mais recentemente.
O processo de tombamento envolve um estudo que avalia a importância de proteger os galpões e um parecer é elaborado. Com base nesse parecer, o Conpresp (conselho do patrimônio histórico) vota pelo tombamento ou não.
O bairro da Lapa foi um dos protagonistas no avanço da industrialização em São Paulo. Grande parte disso se deve à criação da São Paulo Railway, a primeira ferroviária do Estado. Responsável pela ligação entre o porto de Santos e os cafezais de São Paulo, suas oficinas criaram equipamentos modernos, geraram mão de obra especializada para o meio ferroviário. Indiretamente, a São Paulo Railway contribuiu para o avanço do ensino profissionalizante no Brasil, através da parceria com outras ferroviárias na criação de cursos para seus operários.
Estrada de Ferro da SPR que ligava Santos a São Paulo/1870/Marc Ferrez/Biblioteca Mário de Andrade
OUTROS BENS QUE COMPÕEM O PATRIMÔNIO INDUSTRIAL DE SÃO PAULO
Complexo do Gasômetro
A San Paulo Gás Company , com sua fábrica inaugurada em 1872, produzia gás combustível destinada somente para a iluminação pública. Foi apenas em 1896 que começou a fornecer para indústrias e residências, expandindo suas instalações. A fábrica foi responsável pela implementação do fogão a gás na cultura paulistana, causando uma mudança nos espaços de habitação da época.
CIA Antarctica Paulista
Inaugurada em 1872, era a produtora da cerveja Bavária até ser comprada pelo alemão João Carlos Zerrener e o dinamarquês Adam Ditrik Von Büllow, na época os dois sócios majoritários da Companhia Antarctica Paulista. A partir disso, a fábrica da Mooca tornou-se parte da Cia. Antarctica, incluindo refrigerantes em sua produção. Atualmente, a empresa é parte da AmBev, e a fábrica da Mooca encontra-se desativada.
Moinho Matarazzo
Sua construção segue os padrões da arquitetura fabril inglesa, com tijolos aparentes e quatro andares. O Moinho surgiu de um galpão construído por Francisco Matarazzo para armazenar o trigo que importava da Argentina, e se expandiu até tomar uma quadra inteira do bairro. Seu prédio de grandes proporções e maquinário importado se destacava em meio à vizinhança, na época com terrenos vazios, casas modestas e estabelecimentos comerciais de pequeno porte.
Tecelagem Mariângela
Localizada na mesma rua do Moinho, a Tecelagem Mariângela fornecia os sacos de algodão para embalar a farinha, e foi a primeira fábrica do setor têxtil montada por Francisco Matarazzo, em 1904. Junto com o Moinho, representa o processo de desenvolvimento intenso da sociedade industrial em São Paulo, além de tomar parte na conquista dos direitos trabalhistas ao participar, em 1917, da greve geral que tomou o estado de São Paulo.
Edifícios Industriais Rua Borges de Figueiredo
A rua Borges de Figueired